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terça-feira, 9 de abril de 2013

Crônica de humor

                                    CRÔNICA DE HUMOR

             

               

a) Qual a impressão causada pelo fato de as esculturas terem sido feitas como se fossem pessoas gargalhando?  
    Que elas são alegre
b) Que impressão causa em quem observa as esculturas o fato de elas terem sido feitas com a mesma fisionomia e usando a mesma roupa?
    - Que elas eram da mesma família 
c) Imagine agora que você está no museu em que essa obra está sendo exibida. Você a observa. De quem as pessoas esculpidas poderiam estar rindo?
   De quem está vendo as pessoas esculpidas

Crônica:


A casa das ilusões perdidas - Moacyr Scliar

Polícia investiga troca de bebê por casa.
Cotidiano, 10 jun. 99

           Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa, disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre sonhara com isso, com a maternidade – e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse.
           - Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.
           Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.
           Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avançada que tornava impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – estava certa de que ele vinha com a mensagem que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.
           Estava errada. Ele vinha, sim, dizer-lhe que podia dar à luz a criança; mas não para ficar com ela. Já tinha feito o negócio: trocariam o recém-nascido por uma casa. A casa que não tinham e que agora seria o lar deles, o lar onde – agora ele prometia – ficariam para sempre.
           Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.
           Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração.
           - Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco, no mínimo.
           Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo.

                                                                       (Folha de S. Paulo, 14/6/99.)



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